17.7.15

O salgueiro dobra



mas não parte, dizem
Ando atirada por ventos e vou daqui para ali e da ali para além, porque a vida provoca a todo o momento correntes de ar, vendavais e tempestades.
Até casar vivi sempre no meio de vendavais e de tempestades, a bonança só aparecia quando ia passar uns dias ou uns meses, felicidade enorme, a casa da minha avó. O casamento trouxe o que parecia uma paz podre e desde o princípio o que não era mau, mas enganei-me. O meu marido, com passes de varinha mágica de fada, fez-me aprender mais depressa do que tinha acontecido em casa dos meus pais, porque com os pais pensamos que quando nos vemos livres deles, quando saímos da casa deles, tudo ficará bem.
Afinal aprendi que era necessário ser agressiva, áspera, esconder-me para poder sobreviver e para todo o sempre. Fragilidades jamais, ou seriam exploradas, lágrimas só no escuro e quando ninguém visse e assim aconteceu.
Dobrei até ao chão, mas não sou como o salgueiro, parti por sobrevivência.
Esbracejei, empurrei, atirei borda fora, entornei a mesa, subi e trepei pedras, escorreguei em cascalho e gentes, mas fui sobrevivendo em luta constante.
Estou cansada



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