28.6.17

Universos paralelos

Existem 'gurus' que baseados nas teorias quânticas, interpretadas livremente, dizem existir universos paralelos. Gostava que houvessem, mas nunca acreditei.

Afinal, até podem existir.
Os dias passados dentro de hospitais, se forem muitos e têm sido, principalmente os dos acompanhantes mais do que o dos doentes, penso eu e talvez a perspectiva até possa estar errada, são mundos paralelos.
Dias, vidas suspensas em que pouco ou nada se sabe da realidade, cansaço que me leva a deitar mal chego a casa e quando acordo por volta das duas da manhã, parece que há um relógio interior ou fome, janto qualquer coisa tento ver as notícias, mas o desinteresse é tal que apago, tento interessar-me por algo que nunca aparece e, raro, consigo ler até às cinco ou seis da manhã quando me volto a deitar.
Os dias passam sem deixar marca e sem dar por eles. Nunca sei o dia da semana , ou o dia do mês. Foi assim que quase deixei passar o dia dos anos de um filho, não fosse uma amiga ter-me telefonado a dar-me os parabéns e eu a perguntar-lhe que dia era e felizmente era a véspera e ela tinha-se enganado.

Ouvi falar pela primeira vez do festival da canção, nem sabia que ainda havia festival da canção, pelo meu doente que no hospital soube através das enfermeiras. Lá tentei ouvir, passando para a frente, bastava ter uma ideia do que cantara e cheguei à conclusão que o 'E depois do Adeus' de Paulo de Carvalho é que merecia ter ganho o dito festival, no ano de sua graça do salazarismo ou caetanismo.
Parece que já se falava disso há já alguns dias.

Não vale a pena entrar na realidade se é isto que interessa ao país. Teve a vantagem de me obrigar a ver, no mínimo e em diferido, as notícias.
Apesar de lamentar e muito as mortes ocorridas neste incêndio, pelo fogo, um dos meus maiores medos em relação à maneira como se morre, as televisões transformaram o horror numa cansativa normalidade, o que é obsceno.
Fogo e futebol e não saímos daqui. Pobre país.

Temos de acrescentar, pelo menos no verão, mais um 'F' aos já conhecidos:
Fátima, futebol, fogo, e fado

17.6.17

Fadiga

"Belo e verdadeiramente ausente de perguntas só existe o cansaço, fadiga"

Estou cansada, depois de seis meses entre hospitais, física, psicológica e mentalmente.
Ele está de rastos, o homem forte, positivo, lutador, está de rastos o meu homem. 
De há um mês, despede-se de mim como se me não fosse ver no dia seguinte e eu sinto que pode acontecer, que não sei como tem resistido, que talvez, porque não quero pensar a não ser no 'talvez,' não resista mais.
As complicações, por desleixo e incompetência de um hospital, onde esteve apenas doze dias, foram e continuam a ser devastadoras.
Tudo é um esforço, levantar, tomar banho, comer, ir.
Troco palavras, pediatria em vez de ortopedia, por exemplo.
As lágrimas, por mais que queira, quando chego a casa, não secam nunca. 
A tristeza é tão profunda.
Cansa-me falar com os amigos e quando o telefona toca, penso que por favor me deixem em paz.
Depois há a filha de uns amigos, que gosta muito dele e por mais que lhe diga que não preciso de ninguém a não ser estar perto deste homem que é 'meu', insiste e insiste que vá almoçar com ela ( mal engulo um iogurte), ou um cafézinho, ou que me vem buscar a casa e já lhe expliquei que até estar com os meus filhos e netos é um esforço, e só aqui digo que o faço com esforço. Ela volta à carga no dia seguinte.
Tão cansativa esta rapariga, tão insistente, tão chata. 
Estou tão cansada, tão profundamente fatigada, sem fim à vista.
Por favor deixem-me em paz, uma paz que se traduz, apenas, em não falar com outros que não seja ele e vá lá, com esforço que quero fazer, com os filhos e netos.