@Fabiam Perez
Quem diz 'amo-te' tem de o demonstrar por acções. São as acções que valem e não as palavras.
Quando perceberemos que a vida, que o dia-a-dia, só assim é aguentável. Que não há amor que resista a tudo,que o amor se alimenta e não chega ser-se uma boa cama.
Só estou a dizer chavões, mas são tão básicos e mesmo assim há pessoas não os entendem.
31.7.15
29.7.15
Fada do lar
@Grosz
Chegou-me de sapatos cambados, com roupa que já vira
muitos melhores dias, mais alta e mais nova do que eu, talvez na casa dos
trinta, olhos nos olhos, sem tibiezas, portuguesa.
Que sim, já estivera empregada, sabia cozinhar e fazia
tudo o que era necessário numa casa, não tinha referências para dar por a
empresa onde trabalhara ter falido. O fundo de desemprego tinha acabado e este
tipo de trabalho era a sua última esperança. Ficou contratada.
De início, não passava dos bons dias e até amanhã, também
pouco nos víamos, eu entrava e ela saía, mas era muito competente em tudo o que
fazia. A casa bem arrumada, muito melhor do que se fosse eu e cozinhava
lindamente, o que era uma surpresa pela idade que tinha.
Adoeci e tivemos uns dias para irmos conversando, com calma, muita calma.
Era casada, tinha dois filhos e tivera uma casa de quatro assoalhadas.
Eram de Évora e tinham-se conhecido na cantina da faculdade de Lisboa.
Ele era diplomado
em Direito e enveredara pelo contencioso de uma empresa, que tinha falido. No
tempo que durou o fundo de desemprego não conseguira arranjar trabalho na sua
área. Estava ao balcão de num café e recebia o ordenado mínimo. Ela escolhera
Literatura Portuguesa e era diplomada, fora professora, mas desde 2012 que não
conseguia colocação, como tantos outras/os.
Perderam a casa, e viviam os quatro num quarto alugado
com acesso à cozinha. Dizia que a senhoria era boa pessoa que como a pensão não
lhe chegava alugara aquele quarto, também os deixava ficar na sala a ver televisão. O quarto era bom com boa área e varanda por ser numa das
casas antigas de Lisboa. Tivera muita sorte, dizia.
Teve sorte, depois de ter perdido a casa e os empregos.
Que país é este em que diplomados acham que é sorte, um estar empregado num café e, a outra como empregada doméstica porque ganha mais do que o ordenado mínimo. Que país é este em que é sorte viver com o marido e dois filhos num quarto alugado, com uma senhoria que é boa pessoa, depois de se ter perdido a casa e todo o dinheiro que se gastou a pagá-la.
Teve sorte, depois de ter perdido a casa e os empregos.
Que país é este em que diplomados acham que é sorte, um estar empregado num café e, a outra como empregada doméstica porque ganha mais do que o ordenado mínimo. Que país é este em que é sorte viver com o marido e dois filhos num quarto alugado, com uma senhoria que é boa pessoa, depois de se ter perdido a casa e todo o dinheiro que se gastou a pagá-la.
Tive sorte na sorte dela e isso deixa-me inquieta,
revoltada, infeliz na minha sorte.
Fico à espera que este país me faça perder a fada do lar,
que me faça ter azar
27.7.15
Olho em volta,
@Vanessa Bueno
duas camas pobres com lençóis puídos e colchas que já viram melhores dias, uma mesinha de cabeceira no meio e quatro paredes brancas. O quarto é tão despido que o frio me entra no corpo apesar do calor que faz. Tudo me é estranho e não conheço ninguém, mas é aqui que vou viver se calhar até morrer. Foi aqui que me depositaram depois de ter ido fazer queixa à polícia.
Estou zangada, estou revoltada, estou desfeita, estou sem nada.
Tenho cinquenta e três anos, dois filhos emigrados e casei-me com o Álvaro com dezoito anos. Trinta e cinco anos a tratar da casa, dos filhos, que sempre foram a minha alegria, e dele, e a trabalhar fora como qualquer outra mulher.
Trinta e cinco anos a ser sovada. Tantas vezes que equacionei uma fuga, mas para onde, com as crianças, com a certeza de não arranjar emprego onde o ordenado chegasse para lhes dar um tecto. Por isso os filhos eram a desculpa. Eles cresceram, saíram cedo de casa e eu continuei. Não sei porquê, sinceramente.
Só acordei quando o Hélder se veio despedir, quando foi para a Suíça, e avisou de que nunca mais viria visitar-me por já não aguentar ver-me a sofrer sem nada fazer. Seis meses depois partiu a Filipa.
Deixei-o depois da última sova em que, mais uma vez, me pontapeou quando estava estendida no chão e fui à polícia pedir ajuda.
É verdade que já não sou batida. Mas sou eu, a vítima, que tive de deixar a casa, a terra, o emprego, as poucas amigas e ele o agressor, de tantos e tantos anos, fica no bem bom, fica com tudo. Que justiça é esta?
Estou revoltada, estou zangada, estou sem nada e desfeita.
Agradeço à Maria Alfacinha ter-me relembrado como fico raivosa com a legislação existente
duas camas pobres com lençóis puídos e colchas que já viram melhores dias, uma mesinha de cabeceira no meio e quatro paredes brancas. O quarto é tão despido que o frio me entra no corpo apesar do calor que faz. Tudo me é estranho e não conheço ninguém, mas é aqui que vou viver se calhar até morrer. Foi aqui que me depositaram depois de ter ido fazer queixa à polícia.
Estou zangada, estou revoltada, estou desfeita, estou sem nada.
Tenho cinquenta e três anos, dois filhos emigrados e casei-me com o Álvaro com dezoito anos. Trinta e cinco anos a tratar da casa, dos filhos, que sempre foram a minha alegria, e dele, e a trabalhar fora como qualquer outra mulher.
Trinta e cinco anos a ser sovada. Tantas vezes que equacionei uma fuga, mas para onde, com as crianças, com a certeza de não arranjar emprego onde o ordenado chegasse para lhes dar um tecto. Por isso os filhos eram a desculpa. Eles cresceram, saíram cedo de casa e eu continuei. Não sei porquê, sinceramente.
Só acordei quando o Hélder se veio despedir, quando foi para a Suíça, e avisou de que nunca mais viria visitar-me por já não aguentar ver-me a sofrer sem nada fazer. Seis meses depois partiu a Filipa.
Deixei-o depois da última sova em que, mais uma vez, me pontapeou quando estava estendida no chão e fui à polícia pedir ajuda.
É verdade que já não sou batida. Mas sou eu, a vítima, que tive de deixar a casa, a terra, o emprego, as poucas amigas e ele o agressor, de tantos e tantos anos, fica no bem bom, fica com tudo. Que justiça é esta?
Estou revoltada, estou zangada, estou sem nada e desfeita.
Agradeço à Maria Alfacinha ter-me relembrado como fico raivosa com a legislação existente
24.7.15
Gostava de voltar a ter um Presidente
da República como
Jorge Sampaio.
A maioria dos portugueses não sabe, ou já se esqueceu o
que deve a Jorge Sampaio. Devemos-lhe nunca ter tido actos de terrorismo em
território nacional e este facto ‘per si’ já valia os dez anos da sua
presidência, mas também a dissolução da Assembleia da República.
É só relembrar os atentados em Espanha e Inglaterra, logo
que entraram na vergonhosa guerra do Iraque. Portugal não mandou um único
militar, por Jorge Sampaio ter feito frente a Durão Barroso tendo proibido,
como Comandante-chefe das Forças Armadas, a ida de qualquer soldado. Foi a GNR,
já no pós guerra a 12 de Novembro de 2003, mas isso já era exclusivamente da competência
de Durão Barroso, também não foram guerrear, embora tivessem ocupado o Iraque
A dissolução do Parlamento foi, é ainda, controversa. Talvez
o devesse ter feito mais cedo, talvez não devesse ter deixado Pedro Santana
Lopes governar, talvez.
Falta saber se Ferro Rodrigues teria ganho as eleições a
Pedro Santana Lopes e se isso tivesse acontecido não teríamos tido Sócrates,
pelo menos naquele tempo. Mas falta saber.
Para mim, foi o melhor Presidente da República.
23.7.15
Exigências
@ Waldek Wyszynski
Sou mulher, normal, exigente e polivalente, estou com os olhos aqui, a mão ali, o corpo mais além, dou dois dedos de conversa e já estou a falar com clientes, tudo ao mesmo tempo e as coisas fluem e é isso que me dá o encanto de que eles falam. Elas, as outras mulheres, sabem que todas somos assim.
Sou mulher, normal, exigente e polivalente, estou com os olhos aqui, a mão ali, o corpo mais além, dou dois dedos de conversa e já estou a falar com clientes, tudo ao mesmo tempo e as coisas fluem e é isso que me dá o encanto de que eles falam. Elas, as outras mulheres, sabem que todas somos assim.
Sei que quero não ter de me esforçar a dobrar para
reconhecerem que valho tanto ou mais que o meu colega, quero o mesmo ordenado
para a mesma função. Quero que na política os horários não sejam aqueles que só
fazem jeito aos homens, normalmente à hora que deveria estar a fazer-se o
jantar, quero as mesmas oportunidades, quero a igualdade na diferença, exijo-a.
Sei o que quero do que é, ou será, meu companheiro e que
terei tantos quantos forem necessários, até encontrar um que não tenha medo da
mulher independente, da mulher que não precisa dele como muleta, ou como
providência, da mulher que de maneira diferente lhe é igual. Quero um amor, de
preferência apaixonado, quero um parceiro, não quero um filho, nem um pai e
muito menos um patrão.
21.7.15
O meu namorado tem um primo
cujas longas mãos são moles, quentes e húmidas. Dei por
isso há uns três meses, nos anos de um dos meus cunhados, quando, para me
deixar passar, agarrou o meu braço e o apertou num gesto íntimo. Cobra, pensei
eu e retirei-o num arrepelão.
Há anos que faço, duas vezes ao dia, às mesmas horas, a
linha verde , azul e amarela do metro, usando as mesmas estações de entrada e saída. De manhã
entro no Cais do Sodré e saio em Entre Campos e à tarde faço o inverso. Pouco tempo
depois dos anos do meu cunhado, com o metro apinhado, senti um corpo que se
encostava um pouco mais ao meu e quase ao ouvido um ‘viva!’. Era o primo do meu
namorado.
Numa das saídas e entradas, mais apertos e encontrões as
suas mãos foram descansar mesmo junto às minhas mamas, para as quais descaíram
em menos de um fósforo e aquela humidade quente embrenhou-se, amoleceu-me,
encostei-me mais nele sem querer saber se era cobra ou não.. Não saí no Marquês de Pombal. Quando chegámos Rato, sem
dizermos uma palavra demos a volta para apanhar o metro de retorno.Fizemos toda a linha amarela umas duas vezes sem nos querermos largar. Por fim lá cheguei ao Cais do Sodré.
Cheguei a casa com a desculpa castiça do ‘tive de ficar
mais tempo a trabalhar’ e nem respondi à pergunta da razão de não ter avisado.
Avisado o quê? que queria mais do primo dele e que o iria ter?
Há dois meses que já não sei se namoro o meu namorado, ou
se namoro o primo do meu namorado
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