26.6.15

Sempre que posso


fujo para o meu jardim preferido. Afasto-me o mais que posso, sento-me num banco em sítio pouco visível e é aí que procuro a solidão bem-vinda e o silêncio. Habitualmente costumo ficar sozinha, mas hoje houve uma senhora que pedindo licença se sentou ao meu lado, não olhei nem lhe respondi, não queria conversas ou estragaria toda a minha fuga.
Ela começou a falar não sei se para mim ou se para ela, como se fosse uma lengalenga, ou uma oração que fazia a algum demónio de estimação
Naquele fim de tarde chegaste com ar todo pimpão com uma cadelinha ao colo. Olhavas-me desafiador e eu mais uma vez encolhi os ombros, que de tanto o fazer já se tornara num tique, num tique cada vez mais cheio de ódio.
Era o que me restava, raiva e ódio
Dizias de boca cheia «a minha cadela», nem me lembro se tinha nome, era a tua cadela. Mas a verdade é que só era tua para a teres ao colo e lhe fazeres festas e beijá-la, a ela porque a mim há anos nem um beijo davas, porco. Tu, tu, só servias para me gozares enquanto eu apanhava do chão de qualquer divisão da casa as suas necessidades, ou por obrigação tinha de lhe dar o comer
A tua cadela e o ódio a aumentar
A senhora sabe, ele morreu hoje e só ficou a cadela mas eu odeio-a com a mesma raiva e ódio que lhe tinha a ele e agora vou ao veterinário para que ele a mate, que eu não a quero nem mais um dia lá em casa. Nem mais um dia. Era dele e vai morrer com ele

O veterinário entregou-a a uma associação de cães abandonados

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