e deu-me para relembrar
aquele carro preto estrada fora, dois adultos na frente e
três miúdos atrás. O habitual era apanharem uma sova de cinto, mas desta vez
estava prometido que os iam abandonar. Ora, bem lá no fundo e apesar do medo,
todos sabiam que abandonar filhos era história dos livros.
O carro parou, os adultos obrigaram os rapazitos a saírem
e quando ela se preparava para também o fazer, fecharam-lhe as portas. Pensou
que lhes iam bater, mas não, mal a porta dela se fechou logo as portas da
frente se abriram.
Sabe que gritou, antes de chorar ao ver os irmãos cada
vez mais pequenos, meias até ao joelho, calções e casaco e a neve que ainda não
parara de cair desde manhã, a pintar-lhes os cabelos e os fatos, cada vez mais
longe, já só as marcas do carro impressas na neve e o ódio a nascer por aqueles
inimigos que na frente nem olharam para trás.
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