Abri a janela e vi, pela enésima vez, a pala da entrada e
o filme arrebatadamente sedutor apareceu com todos os pormenores.
Ele a chegar a casa ir fechar a janela aberta e a
ver-me estatelada na pala da entrada. Os gritos a correria escada a baixo, o
desespero a pedir por uma escada e a voz insidiosa que controlara a
esgueirar-se e a perguntar-me pela outra.
Aqui não há espaço para a outra. A porteira a telefonar
aos bombeiros que chamaram a polícia, o médico legista que nunca mais chegava e
ele sem conseguir ficar parado gritava, telefonava aos amigos e a voz a
insistir que a outra era a causa e o efeito.
Aqui não há espaço para a outra. O corpo a ser levado
para a morgue que passados três dias o libertava, o velório as flores e o enterro,
o desespero e as lágrimas dele inconsolável, eu que voltava a ser o seu grande
amor, o seu único amor e a voz a insistir que a outra o iria consolar
Aqui não há espaço para a outra. Inclinei-me mais na
janela aberta, gemendo qual mantra infantil como quando se tira um brinquedo a
uma criança, aqui não há lugar para a outra, aqui não há lugar para a outra e
quanto mais o repetia mais o espaço dela alargava, o dele diminuía e o meu
desaparecia.
Rebelei-me. Dor de corno? sofri com dor de corno? o meu
espaço alargou triunfante, o dele diminuiu mais um pouco e o dela desapareceu.
Endireitei-me e fechei a janela devagarinho dando tempo a que se esfumasse o
enterro o velório e as flores, o corpo libertado a morgue e os amigos, o médico
legista que nunca mais chagava a polícia e os bombeiros, a porteira, o meu
corpo estatelado e ele.
6 comments:
Primeiro agradeço a sua visita a um dos meus blogues
e o seu comentário. Espero mais visitas.
Gostei do texto do seu último post.
Voltarei com mais tempo para o reler de novo
e ver outros posts.
Bj.
Irene Alves
Os espaços são sempre curtos.
...e eu agradeço a tua visita :)
Obrigada e volta sempre. Irei de certeza mais vezes ao teu blog.
Olá mfc
Um olá que atravessa o espaço de vários anos.
Tu continuas, eu desisti e tento regressar.
Também intervalei nove meses...
Beijos.
Ah! isso foi um parto...
Beijos
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