Tenho uma vizinha que foi minha colega de yoga e que me
propôs que, em vez de irem sempre dois carros, uma semana era ela que me levava
e na seguinte trocávamos. Nunca fomos amigas e a nossa convivência resumia-se
às viagens, curtas, de ida e volta para as aulas de yoga.
Um dia insistiu para que a fosse buscar mais cedo, para
me mostrar a casa. Fiquei surpreendida pois na minha casa só entram os meus
amigos. A casa dela está num plano mais elevado do que a minha e calculei que
deveria ter uma vista espectacular para o mar. Da minha, apenas o vemos num
canto de uma das varandas. Tinha um óculo na sala. Espreitei para ver os barcos
que estavam ancorados e para meu espanto dei com a minha casa. Ri-me. Só me vês à noite, saiu-me mal refeita
da admiração.
As minhas cortinas estão colocadas de meio das janelas
para baixo. Ela, à noite, vê tudo o que se passa na minha cozinha. Apenas na
cozinha, única divisão que tem janelas viradas a norte. Costumo, em dias
quentes, andar nua pela casa. Cozinho nua. Continuo a cozinhar nua. Não mudei
ou modifiquei as cortinas. O problema, se é que há problema, está em quem olha
e não em quem é olhado. Gosto do meu corpo e não tenho vergonha dele, além de
que estou na minha casa onde faço o que quiser.
É comum que mulheres, grávidas ou não, sejam fotografadas
nuas e sejam capas de revista. Fazem parte, normalmente, das chamadas famosas. Estamos
fartinhos de ver em revistas ou mesmo em notícias, costumam ser estrangeiras e
ninguém acha mal ou lhe passa pela cabeça criticar. Mas quando é uma
portuguesa, chovem críticas de todos os lados.
Joana Amaral Dias é dona do seu corpo e pode fazer com
ele o que bem quiser, seja onde for e quando lhe der na real gana. É bom termos
a noção de que as críticas ao timing,
ao ser política e à nudez se confundem.
Não tenho falsos moralismos nem pudores, acho que a nudez
de uma mulher grávida e bonita é linda. Gosto de ver.
Sabem qual é a crítica que faço a Joana Amaral Dias? A de
ter vindo desculpar-se ou justificar-se, não o devia ter feito, atacando quem a
critica dizendo que o país é um paísinho.
Então ela é política, é a cabeça de cartaz de um partido
e não sabe que as mentalidades não evoluíram, que os falsos moralismos e
hipocrisias são transversais à sociedade portuguesa tanto social, como ideológica
e religiosamente? Então ela quer ser eleita sem conhecer o povo de que faz
parte? Mas de políticos destes estamos nós fartos, ou não?
Nada muda numa sociedade, num país, numa Europa, no mundo
enquanto as mentalidades não mudarem.