17.6.17

Fadiga

"Belo e verdadeiramente ausente de perguntas só existe o cansaço, fadiga"

Estou cansada, depois de seis meses entre hospitais, física, psicológica e mentalmente.
Ele está de rastos, o homem forte, positivo, lutador, está de rastos o meu homem. 
De há um mês, despede-se de mim como se me não fosse ver no dia seguinte e eu sinto que pode acontecer, que não sei como tem resistido, que talvez, porque não quero pensar a não ser no 'talvez,' não resista mais.
As complicações, por desleixo e incompetência de um hospital, onde esteve apenas doze dias, foram e continuam a ser devastadoras.
Tudo é um esforço, levantar, tomar banho, comer, ir.
Troco palavras, pediatria em vez de ortopedia, por exemplo.
As lágrimas, por mais que queira, quando chego a casa, não secam nunca. 
A tristeza é tão profunda.
Cansa-me falar com os amigos e quando o telefona toca, penso que por favor me deixem em paz.
Depois há a filha de uns amigos, que gosta muito dele e por mais que lhe diga que não preciso de ninguém a não ser estar perto deste homem que é 'meu', insiste e insiste que vá almoçar com ela ( mal engulo um iogurte), ou um cafézinho, ou que me vem buscar a casa e já lhe expliquei que até estar com os meus filhos e netos é um esforço, e só aqui digo que o faço com esforço. Ela volta à carga no dia seguinte.
Tão cansativa esta rapariga, tão insistente, tão chata. 
Estou tão cansada, tão profundamente fatigada, sem fim à vista.
Por favor deixem-me em paz, uma paz que se traduz, apenas, em não falar com outros que não seja ele e vá lá, com esforço que quero fazer, com os filhos e netos.


2 comments:

Isabel Pires said...

Há coisas estranhas... estiveste três meses sem publicar e ontem, sem saber a razão, cliquei no "inconfessável" que tenho na lista de leitura, para ver se ainda estava activo :)

Há quem não saiba respeitar o ritmo dos outros, a cadência respiratória que é precisa.
Dos que não conseguem, há as pessoas que não são capazes de chegar a esse tipo de sensibilidade. Mais uma questão de inaptidão que tem que ver com o seu enquadramento social e a formação a vários níveis. Estas pessoas até têm desculpa porque o quadro de valores delas só consegue enxergar a aproximação como ajuda, o melhor que há a fazer.
As outras pessoas, as que não conseguem respeitar o silêncio porque se querem impor, é mais complicado aceitar, até porque costumam dizer uma coisa assim do piorzinho "eu sei que isto é que é o melhor para ti".
Parece que esse caso se enquadra neste último grupo e percebe-se que já lhe terias dito. Sendo assim, provavelmente terás de repetir.

Eu fico sempre comovida quando alguém relata aspectos da função de cuidador em situações bastante complexas, como me parece ser o caso, em que uma pessoa tem um problema de saúde grave. E pelos vários tipos de desgaste associados, que até referes no início, interrogo-me mais uma vez "e quem cuida dos cuidadores?"

Podiam vir melhores dias para ti e é isso que espero que aconteça.

inconfessável said...

...e dizer, um amigo dele que não conheço, 'deixe lá. Agora todos os meses morre um amigo'. Simpático não?

Dias melhores...há uma réstia de esperança ou o desespero instalasse definitivamente.

É difícil cuidar dos cuidadores, principalmente de mim, que acho sempre que não preciso de ajuda e sabes, na verdade, só ele poderia cuidar de mim se melhorasse.

Ontem precisava de desabafar :) Obrigada Isabel