Na aldeia onde vivo não há igreja, nem correios. Nunca houve.
Vinha uma carrinha vermelha dos correios à quarta-feira à tarde. Era ver os desgraçados dos pensionistas, fizesse frio sol ou chuva em bicha no passeio, encostadinhos à parede na esperança de não apanharem com os pingos das goteiras, à espera que chegasse, sabe-se lá a hora a que chegam, eles é que mandam.
A junta de Freguesia que já não é, quando teve instalações novas, ofereceu-se para fazer o trabalho dos correios. Já não temos de ir à cidade para comprar um selo, levantar uma encomenda, ou levantar a abençoada, por pior que seja, da pensão. Não senhor, agora é tudo na junta que já não é.
No rés-do-chão da junta é a casa mortuária. Também fez jeito, já que os corpos faziam lista de espera para poderem ir para a cidade. Na melhor das hipóteses, velava-se um morto três dias depois de ter morrido, se fosse no verão. Já no Inverno a coisa complicava-se.
Há cadeiras e um aquecimento para os dias mais frios, os familiares do morto trazem a máquina do café, vai um cafezinho, e fecha-se às dez da noite é muito mais prático.
Agora é uma alegria velar um morto
4 comments:
quase me fizeste gostar da vida na aldeia
mas na verdade acho que só gosto de ver (e ler)
Olha que não era essa a ideia, apesar de gostar de por cá viver.
Mas conto-te um segredo, gosto do silêncio e da calma, dos pássaros e das estrelas, mas também tenho saudades da cidade
eu sei, mas contaste-o com tanto desvelo, que não pude deixar de sentir ternura por essa tua aldeia
Ah, eu tenho ternura pelas pessoas desta aldeia. São resilientes.
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