4.2.17

O quarto 2

Contaram-me dois ou três dias depois.
Como habitualmente, ali estávamos as duas a velar quem estava na cama.
Tinha acabado de despir o casaco, depois de ter ido comer uma sopa ao café em frente, quando ela se afastou da parede.
Tive medo que fosse mais uma vez para junto da cabeceira da cama. Não, foi andando devagar, majestosa até sair a porta.
Não houve alívio, mas só naquele momento percebi quão densa ela era, até o ar ficou mais leve, respirei melhor, espantada, desconfiada, expectante.
Na cama houve melhoras, não havia tanta dor, e o discurso era lúcido.
Quando saí, já tarde, ainda não tinha voltado.
Entretanto, nessa noite, alguém dançava numa discoteca e repentinamente caiu morto no chão.
Contaram-me dois ou três dias depois. Era o filho mais velho.

2 comments:

Isabel Pires said...

Às vezes estamos por dever / obrigação e isto pode ser não se estar por inteiro, mas não é pior ou menor por isso. Pode ser até o contrário, ser "maior", portanto.
Inconfessável, também seria o que diria no post anterior.

inconfessável said...

Não sei bem se foi isso que quis dizer, Isabel Pires.
Mas estou integralmente de acordo com o que pensas.
Beijinho